A realidade em que vivia era triste, mas só deu-se por isso quando os treze batera à sua porta. Não era de muita valia, nunca seria boa para nada, como seria, se nunca prestara?! Descendente de uma "raça ruim", a sua progenitora insistia em lembrar. Se esta que era sua mãe vivia lhe dirigindo tais palavras, como acreditaria num mundo melhor? Vantagem, não era a única, dividia essas carícias e elogios, com todos os outros nascidos da mesma barriga, exceto o que morreu ainda menino, este virou santo. Comparativo injusto quando se morre inocente... "Porque seu irmão, se estivesse vivo..." E a história continuava.
Sem sentimento! Mas se os tivesse, quem se importava?
As irmãs, que se dividiam entre aquelas que diziam "a mãe é assim mesmo, sempre foi assim..." e as que diziam que não seria assim pra sempre, seria diferente: "A gente cresce e não tem que suportar mais isso!!!"
A menina cresceu, tentou a marginalidade, mas nunca teve talento, só raiva por dentro! Não usou drogas, nem cometeu assaltos, nunca fez um aviãozinho ou pegou um pino de um traficante, mas não, não era boa!!! Não era boa mesmo, e nunca seria!!!
Depressão! E uma nova luta, pela motivação de estar viva. Entender que não se é amada por quem lhe pôs no mundo, é muito duro aos dezessete anos. Criou sua própria ilusão.
Suas irmãs as que se importavam com a quantidade de bebida que ela consumia, com a quantidade de gírias que falava, com quem namorava, onde ia, lhes davam asas, sonhos, coisas que elas, mesmas, nunca receberam, idas aos shoppings, cinemas teatros, música na vida, alegria!
Era amada sim, talvez não pelo amor original, que deveria ter sido amor, mas não foi, mas por quem , por não ter recebido, tinha criado um reservatório imenso.
Hoje, mais velha, em terapia, tenta entender como alguém que pari tanto pode amar tão pouco. É possível que essa seja a explicação, quem ama cuida, se cuida, e depois cuida dos outros, e não falo do cuidado de vestir, dar um teto, arroz e feijão, falo de olhar nos olhos, de tentar conhecer, entender, tocar, se aproximar do outro e de si mesmo, quem poderá saber?!
Não sei!!!
Ninguém sabe.
O que sabe, é que não se professa o Cristo idolatrando o diabo (e escrevo com letra pequena, porque quem passa a vida amaldiçoando os seus deve ser descrito deste jeito). O que sabe, e não com menos dor no coração, é que as pessoas são o que são.
Quanto a ela, cresceu! Escreve textos, faz terapia, tenta entender o mundo, mas não só ele, tenta entender as pessoas... aquelas que tornam-se perfeitas, e que tem justificativas para tudo, e quando os erros se tornam defeitos, arrumam desculpas (até mesmo para o aborto), e continuam a sorrir nos seus mundos perfeitos!!!
DEUS??? Deve ser uma utopia... ela até acredita, mas só tem convivido com a realidade!!
No demais ela teve e tem ao seu lado quem sempre lá esteve, pagando o preço e assumindo a culpa, sem ter ao menos, merecido... As irmãs, os anjos, aqueles que não escolheram ter nascido, mas que, em meio a tantas dificuldades e limitações escolheram e até hoje escolhem amar!!!
Talvez você leitor não saiba, mas ela descobriu, porque os têm, como nascem os anjos, e este é um segredo que ela não compartilha com mais ninguém!... Da minha parte só sei que é assim que nascem!!!
Se algum de vocês os encontrar, guarde o segredo, porque nada mais pode ser guardado!!!
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